“No dia 3 de fevereiro de 1908, na freguesia de São Paio, desta cidade, nasceu João Xavier de Carvalho. Filho de uma família simples frequentou a instrução primária até à 3ª classe, onde já era notado por ser um aluno exemplar. Começou a trabalhar com 12 anos de idade, passando por várias profissões e, no dia 1 de julho de 1938, foi admitido como Oficial de Diligências, na Câmara Municipal de Guimarães, onde, até aos 70 anos de idade, desempenhou as suas funções com maior dedicação. Fundou a "Alcateia 81 D. João I", dirigindo-a durante vários anos, com grande entusiasmo e carinho. Foi chefe adjunto dos Escuteiros do Núcleo de Guimarães, pertencendo à Fraternidade Nun`Álvares onde se manteve até ao fim da sua vida. Fez parte de várias Irmandades e Confrarias, e outras coletividades, como por exemplo, os 20 Arautos, Caixeiros, Associação artística, etc..Foi presidente da direção das Associações Mutualistas; Artística Vimaranense e Fúnebre Familiar Operária Vimaranense, bem como membro de várias Comissões de Festas da Cidade e vice-presidente de uma Comissão da Marcha Gualteriana. Em 1953, no Centro Pastoral de Guimarães, iniciou o teatro infantil, do qual era diretor artístico, que se exibia com regularidade no seu salão de festas e ainda no Teatro Jordão, Teatro Garrett, na Póvoa de Varzim, S. Geraldo em Braga, Salões Paroquiais do concelho de Guimarães e de Rio Mau em Vila do Conde e outros.
Grande impulsionador e organizador dos deslumbrantes cortejos históricos, que desde 1967 até à década de 70, abrilhantou as festas da cidade e as comemorações do 24 de junho, desfilando pelas ruas da cidade. Era ainda menino e moço fazia já versos, serenatas e teatros, colaborando mais tarde nos jornais “Diário do Minho”, “Conquistador”, “Comércio do Porto”, “Comércio de Guimarães”, “Notícias de Guimarães”, “Colina Sagrada” e “Pica-Pau”. Nos jornais Notícias de Guimarães, Comércio de Guimarães e Conquistador, destacaram-se as “Farpas”, “Picadelas” e “Ferros Curtos”, respetivamente, que com um certo humor inofensivo criticavam determinados factos e acontecimentos passados, principalmente na nossa cidade, usando o pseudónimo de “Darmoa” e “Reivax”. Durante muitos anos, fez para o grupo popular os “Amigos da Cidade” a letra para os Reis, as quais tinham o pseudónimo de J. Reivax. Foi desde o início – e isto durante anos – o autor e realizador dos Reis dos Caixeiros, revista em verso e com orquestra de sabor crítico e vimaranense, que exibia no Restaurante Jordão, Teatro Jordão, Salões dos Solares da nossa terra, bem como na Cadeia de Guimarães, na data festiva dos Reis, para angariar fundos para a Marcha Gualteriana. Na década de 60 saiu para a rua, integrado na Marcha Gualteriana, um carro por ele idealizado sobre Gil Vicente. João Xavier de Carvalho, foi um grande impulsionador de teatro amador em Guimarães, sendo fundador, diretor artístico, ensaiador e ator do Grupo Cénico “Mocidade Alegre”, em 1928, bem como do “Grupo Dramático e Orfeónico Vimaranense”, em 1932. Também fundador diretor artístico, do “Teatro dos Caixeiros“, exibiu, ensaiou e atuou várias vezes no Teatro Jordão, peças de autoria do Padre Gaspar Roriz, André Brun, outros autores e dele próprio. “O Auto de S. Torcato” do autor Francisco Ventura, ensaiado pelo J. Xavier de Carvalho, foi representado pela 1ª vez no adro do Mosteiro de São Torcato, na noite de 4 de julho de 1954.Para comemorar o nascimento do Padre Gaspar Roriz, apresentou a peça “Os dois Marçanos”. No dia 8 de abril de 1957, com o Teatro dos Caixeiros, pôs em cena a Comédia em 1 ato, original de André Brun, “Meu marido que Deus haja”. De autoria do padre Gaspar Roriz, a peça em 2 atos, “O herói minhoto”, dedicada à Sub-Agência em Guimarães da Liga dos Combatentes da Grande Guerra, terminando com uma deslumbrante apoteose em homenagem aos soldados de Portugal. Por iniciativa da Câmara Municipal de Guimarães, comemorou-se em junho de 1957, 3º Festival de Gil Vicente no Paços dos Duques de Bragança, (…) onde João Xavier de Carvalho, acompanhado por um magnífico elenco do Teatro dos Caixeiros, apresentou com brilho a “Farsa de Inês Pereira” e o “Auto da visitação” (Monólogo do vaqueiro) de Gil Vicente. No dia 8 de abril de 1959, mais uma vez apresentou no Teatro Jordão, de autoria do padre Gaspar Roriz, a peça “O sonho dum operário”. Xavier de Carvalho escreveu várias peças de teatro, sendo a 1ª “O grilo caloteiro”. Tantas se lhe seguiram, como por ex. Helena, Pátria, Naufrágio. As peças de sua autoria “Coração de bronze”, “Orfanato”, “Abraço paternal” e “A morte do gordo”, foram ensaiadas por ele e representadas pelos alunos do 7º ano do liceu. Pela Companhia de Teatro Rafael de Oliveira de Lisboa, foi representada a peça também da autoria “Olha a beiça”. Levou à cena no Teatro Jordão, várias peças de teatro de sua autoria com a então Juventude Escolar Católica Portuguesa (JEC), bem como das empregadas da casa de Sta. Zita, da qual era diretor artístico, destacando-se as peças “Milagre de Sta. Zita”, do ano de 1945, “Roubo da joia”, de 1946, “Intriga”, “Espadelada”. João Xavier de Carvalho, possuidor de uma grande alma de poeta, impulsionou sempre o teatro na juventude, não só na sua amada cidade, mas também, nos diversos pontos do país e do globo, como por exemplo, a peça de sua autoria “Cruz de guerra”, que foi representada na China pelos escuteiros, bem como nas missões de Angola e Moçambique; fez também a peça “Auto de beato Nuno”, para ser representada pelos Escuteiros. Além de todas as peças já citadas, existem ainda muitas mais, das quais se destacam as seguintes: “Sublime missão”, “Juramento de amor”, “O imigrante”, “As manas bebianas no Carnaval”, “A cartomante” de 1960, “A ceguinha” de agosto de 1961, “ A paralítica” de dezembro de 1961, “A grande Frederica” de 1962, “A francesa” de 1969, “O auto da paz”, “O telefone”, etc., etc., peças estas que foram representadas no salão paroquial de Oliveira, pelas crianças e jovens. É de salientar que quase todas as peças de sua autoria, são escritas em verso. Escreveu em verso também, vários coros falados, de entre os quais, “Os novos escolhem Deus”, “Por D. Nuno de Portugal”, “As criadas escolhem Deus” e durante vários anos, as letras para os Coros dos carros de S. Torcato. O teatro não morreu com ele. Encontra-se ainda bem vivo no coração de muitos que trabalharam e foram ensaiados por ele, recitando alguns poemas e até representando teatros da sua autoria nos mais imprevisíveis lugares. Escritor e poeta, que junto de sua esposa e incutindo nos seus filhos o gosto pelo teatro, deixou bem patente um testemunho de amor e respeito, não só nas pessoas que ao longo da sua vida o ajudaram no seu trabalho de teatro amador, como também a esta cidade, a qual ele dedicou toda a sua vida, trabalhando com carinho e empenho, para sempre enaltecer este berço da Nacionalidade Portuguesa.”
Por: Maria Alice de Xavier Carvalho Oliveira. Guimarães, 20 de setembro de 1989