"Fundação dos Colégios de Jesus dos Órfãos"

File

PT/TT/CMOL/00001

"Fundação dos Colégios de Jesus dos Órfãos"

Arquivo Nacional da Torre do Tombo

1 liv. (52 f.); perg.

"Original único da fundação do Colégio dos Meninos Órfãos e muitas mais cousas raras que não se acharam em outra parte". Lote 72 do Leilão "Biblioteca Particular VI”, realizado pela Livraria Ecléctica no dia 25 de outubro de 2018, às 19h15.

“Hoje 15 dias do mês de agosto, dia da Assunção de Nossa Senhora nesta cidade de Lisboa, Pero Domeneco, capelão do Rei, cónego da Sé de Barcelona e abade do mosteiro de Nossa Senhora de Vila Beltrão da Ordem de Santo Agostinho dos Cónegos Regrantes do bispado de Gerona, entrou nestas casas de Ana Borjes, que estão na Mouraria diante de São Sebastião, as quais o rei D. João lhe mandou entregar para se nelas principiar um recolhimento de pobres meninos órfãos sob a invocação do nome de Jesus, os quais andam desamparados e perdidos na Ribeira, e pela cidade, para nelas se ensinarem e doutrinarem e depois os darem às religiões e ofícios segundo suas inclinações e habilidades”.Contém tabuada e capítulos com iniciais ornadas, rubricas a vermelho. Registos datados, escritos na primeira pessoa como se fosse um diário (de sexta-feira,16 de janeiro de 1550 a 21 de março de 1553). Descreve as idas à rua para recolher crianças, a sua reacção de recusa ou de troça, o seu estado, a miséria encontrada. Apresenta descrições fotográficas sobre a forma como se procuravam as crianças e os lugares onde se encontravam. No “Capítulo 2: Dos primeiros sete moços que estraram nesta casa” está registado: Aos 19 dias do mês de agosto de 1549, fui eu Pero Domeneco a buscar moços pobres órfãos e finalmente depois de ter muito buscado e não achasse quem quisesse seguir, fui à Ribeira onde, também depois de já ter muito buscado, fui parar quase à borda d’ água onde chamam “O Mal Cozinhado”, onde jaziam ao sol uma manada deles jogando com patifes e outra gente perdida todos esfarrapados descalços e maltratados, luzios e queimados do sol. Descreve a partida das crianças: o destino (Brasil, Índia), a sua missão, o que levavam consigo – colchões, esteiras, roupa, livros para os próprios e livros para os meninos de Brasil, linhas e agulhas para coser, etc.; a visita do Rei à Casa de Lisboa; as Romarias que os meninos frequentaram: ao Mosteiro de Penha Longa, a Nossa Senhora da Merceana, a Nossa Senhora da Atalaia – pernoitando na Quinta de Fernão da Silveira, perto do Samouco -, a Nossa Senhora da Nazaré, a Nossa Senhora de Monserrate. Inclui o traslado da carta que o Padre escreveu a Inácio [de Loiola] com a descrição da romaria a Monserrate; os Capítulos sobre a fundação das Casas no Reino: em Coimbra, Portalegre, Tomar, Lagos. Contém também traslados autênticos datados de 10 de fevereiro de 1553, de Bulas concedidas pelo Núncio para a fundação da Casa de Lisboa e de Alvarás relativos à actividade das Casas; os Estatutos e ordenações da Confraria do Menino Jesus concedidos a todas as casas dos Meninos Órfãos de Jesus; a Doutrina ensinada; as Ordenações da Casa sobre como receber os meninos órfãos e os ofícios que garantiam o funcionamento das casas: dormitoreiros, varredores, dispenseiro, roupeiro, enfermeiro, porteiro, cozinheiro, refeitoreiro, lavadores dos vasos. Traslado de uma carta do Brasil escrita por um menino a Pero Domeneco, na qual se ensina a outros meninos, filhos de gentios convertidos à fé.

Português, latim

ARQUIVO NACIONAL DA TORRE DO TOMBO - [Base de dados de descrição arquivística]. [Em linha]. Lisboa: ANTT, 2000- . Disponível no Sítio Web e na Sala de Referência da Torre do Tombo. Em actualização permanente.

Da descrição do lote retira-se o seguinte excerto sobre o Padre Pero Domenech: Abade do Mosteiro de N. Senhora de Villabeltran dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, natural da Catalunha, esteve alguns anos em Roma na embaixada portuguesa ao servico de D. Joao III. Em 1542 vem a Lisboa informar sobre os negócios da cúria romana trazendo consigo uma carta de recomendação do Pe. Inácio de Loiola para o Pe. Simão Rodrigues. Parece que acabou por receber os votos da Companhia de Jesus, permanecendo em Portugal até 1553. Nesse ano saiu de Portugal, chegando a Barcelona a 8 de Julho, retirando-se para o seu mosteiro de Villbertran onde morreu a 1 de Novembro de 1560.