Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas
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Identification
Description level
File
Reference code
PT/TT/MSML/B/44
Title
Apocalipse do Lorvão
Title type
Atribuído
Holding entity
Arquivo Nacional Torre do Tombo
Initial date
1189
Dimension and support
1 códice ([2]+219+[2] f.; 351 x 264 x 111 mm); perg.
Context
Biography or history
O Apocalipse é o último livro do Novo Testamento, e significa a revelação do fim do mundo pecador, da luta entre o bem e o mal que terminará com a vitória de Cristo. Tal como esta realidade, por inacessível à razão, teve que ser revelada por Cristo a S. João (para lhe mostrar o triunfo do bem sobre o mal e não para aterrorizar), o texto do Apocalipse teve que ser comentado em escritos alegóricos, simbólicos, para ser mais facilmente inteligível. Os cristãos foram perseguidos, humilhados e marginalizados; o imperador romano era divinizado e quem não o adorasse era afastado dos bens materiais e por vezes martirizado. Por este livro os cristãos ficaram convictos de que o império romano, por todos considerado perpétuo, caíria também e Cristo dominaria tudo e todos. O dragão é aqui o símbolo do demónio e do império romano e de todos os outros impérios que não o de Cristo, que serão vencidos por Cristo. O Antigo Testamento é património dos judeus, o «povo de Deus» que teria a Terra por herança, enquanto o Apocalipse vai mais além, pois se destina ao «povo de Deus» e a todos os outros povos. O Apocalipse é uma narração profética simbólica para pacificar os cristãos e para os exortar a manterem a fé. A linguagem é simbólica para os pagãos não entenderem. Mas o Apocalipse precisava ele próprio de ser revelado ao comum dos cristãos e por isso cerca de 786 o Pe Beato de Liébana das Astúrias escreveu um comentário de que existem 23 cópias. O Apocalipse do Lorvão, de autoria de Egeas, baseia-se no Comentário de Beato de Liébana, do séc. VIII.
Custodial history
O Apocalipse do Lorvão pertenceu ao mosteiro de São Mamede Lorvão, de onde foi trazido para a Torre do Tombo por Alexandre Herculano.Até 2010 serviu de instrumento de descrição, a "Relação dos livros que José Manuel da Costa Basto trouxe dos cartórios dos Governos Civis do Porto, Coimbra, Viana, da Biblioteca Pública do Porto, das Sés de Coimbra e Viseu, e dos Mosteiros de Lorvão e Arouca" (C 284).
Content and structure
Scope and content
Trata-se do Comentário ao Apocalipse pelo Beato de Liébana.O Apocalipse do Lorvão inclui as seguintes ilustrações: revelação de Jesus Cristo (f. 12v); a segunda vinda de Jesus Cristo (f. 14v); o mistério das sete estrelas (f. 17); mapa-mundi (f. 33a); a mulher sobre a besta (f. 43); mensagem a Éfeso (f. 49); mensagem a Esmirna (f. 54); mensagem a Pérgamo (f. 59); mensagem a Tiatira (f. 64); mensagem a Sardes (f. 68v); mensagem a Filadélfia (f. 73); mensagem a Laodiceia (f. 80); visão do trono de Deus (f. 86); visão do Cordeiro e dos quatro seres (f. 90); os quatro cavalos (f. 108v); as almas debaixo do altar (f. 112); o grande terramoto (f. 115); quatro anjos seguram os ventos (f. 118); os eleitos do Senhor (f. 119v); adoração do Cordeiro de Cristo (f. 120); o silêncio no céu (f. 134); os sete anjos tocam as trombetas (f. 135); os quatro primeiros anjos tocam as trombetas (f. 136-139); a quinta trombeta (f. 140v); a história dos gafanhotos (f. 142); a sexta trombeta (f. 143); os cavalos com cabeças de leões (f. 144); a medição do templo novo (f. 146); as duas testemunhas (f. 148, 149 e 150v); a sétima trombeta (f. 152); a mulher no Sol e o dragão (f. 153v); a besta do mar e a da terra (f. 158 e 161); a sabedoria (f. 167 e 167v); o Cordeiro no Monte Sinai (f. 169); os três anjos (f. 171); colheita e vindima (f. 172v); sete anjos com as sete últimas pragas (f. 175 e 176); seis anjos derramam as suas taças (f. 177 e 181v); os espíritos imundos (f. 182); o sétimo anjo derramou a sua taça pelo ar (f. 184v); o julgamento da grande meretriz (f. 185v e 186v); a vitória do Cordeiro (f. 191); a queda de Babilónia (f. 193); um anjo forte (f. 195v); glorificação de Deus (f. 196v); o exército do céu (f. 198); o anjo sobre o Sol (f. 199); da besta e dos reis (f. 200); Satanás amarrado por mil anos (f. 201); as almas dos mártires (f. 202v); Satanás solto da prisão (f. 203v); o diabo e o falso profeta no fogo (f. 206); o Juízo Final (f. 207); a Nova Jerusalém (f. 209v); a água e a árvore da vida (f. 210); a despedida de João (f. 217); João regressa a Éfeso (f. 217v). Uma das ilustrações mais trabalhadas do Apocalipse - a colheita e vindima (Livro do Apocalipse, Liv. 14-14-20; f. 172v) representa Cristo, o juiz, com a coroa da vitória que, de foice em punho, se prepara para ceifar a seara seca, seca porque envenenada pelo pecado, árida e estéril, boa para alimentar o fogo. Nas Escrituras, o Juízo de Deus é comparado à ceifa e à vindima. A ceifa é o símbolo da destruição total da humanidade desobediente a Deus, cortada pela foice da sua justiça. Um anjo aparece com uma foice, ou podoa, na mão, e corta das latadas os cachos também eles envenenados pela rebeldia humana e lança-os no lagar da ira de Deus, onde são pisados e espremidos.Esta ilustração retrata a vida da sua época (a de D. Afonso Henriques): as alfaias agrícolas (podoas, foices, cestos de vime); os trajos dos vindimadores e do ceifeiro, Cristo, de largo chapéu de palha; a disposição das videiras (em latada, escoradas de onde a onde; o processo de lagaragem). Igualmente tem interesse para o estudo da arquitectura (vejam-se as 7 arcadas românicas do 2º plano), e para o estudo das tintas e pigmentos utilizados.Na obra ‘O Arquivo da Torre do Tombo’ de Pedro de Azevedo e António Baião, este códice é apresentado nos seguintes termos:«Apocalipse de Lorvão: Seja este o primeiro códice iluminado de que nos ocupemos. É um in-folio não paginado, regrado horizontalmente e escrito em duas colunas em letra gótica primitiva, segundo a classificação de Lecoy de La Marche com os títulos e inicias dos capítulos a tinta vermelha. Encadernado muito posteriormente, talvez no século XVI, como parece atendendo se aos altos relevos do coiro, tem no interior da capa a seguinte notícia escrita e assinada por um dos maiores frequentadores da Torre do Tombo e um historiador cujo nome ninguém por certo desconhece, Alexandre Herculano: "Comentário ao Apocalipse, pelo monge Beato de Liebano, de que existem varias cópias na Europa, feitas desde o IX até o XIII século. Esta é feita por um certo Egas em 1189 (era 1227) como se lê na subscrição. O valor deste códice está principalmente nas suas barbaras iluminuras, onde se encontram muitos espécimen autênticos de trajos, alfaias, arquitetura do século XII, raros em Portugal. Obtive-o das freiras de Lorvão em 1853 para o fazer depositar no Arquivo da Torre do Tombo a que fica pertencendo: A. Herculano". É portanto este códice uma preciosa raridade duma importância extraordinária para a historia medieval dos costumes e para a historia da iluminura. Sob este ponto de vista, podemos afoutamente dizer que ele pertence à fase hierática da iluminura, segundo a classificação de Lecoy de La Marche. Efectivamente, todas essas páginas iluminadas a duas cores — vermelha e amarela — são cheias de ingénuas figuras de anjos, com uma expressão docemente mística, e nelas predominam os símbolos. Encontramos representada a besta do Apocalipse, fantastica criação de S. João Evangelista, e sobre ela uma mulher, com a sua tal ou qual expressão de terror, defendida do monstro por um cálice contendo o sangue do nosso Redentor, que ela tem numa das mãos e na outra um chrismon, simbólicas armas com as quais resiste ao animal, encarnação da concupiscência, da avareza, da inveja e da soberba, que para ela estende as suas goelas hiantes e ameaçadoras. Encontramos uma pomba branca, saindo da boca de uma figura aureolada, representado a pura e sã doutrina de Jesus; encontramos os 3 animais, águia, leão e touro, cada um com seu livro, representando respectivamente os 3 evangelistas, S. João, S. Marcos e S. Lucas, no meio o cordeiro com uma cruz, representado Jesus Cristo, e no fundo uma outra figura com outro livro, representado o 4.º evangelista, S. Mateus. Encontramos 7 anjos com as suas tubas, em posição de serem tocadas, e – o que é curioso – com uns traços negros a indicar a sabida do som!… Enfim, as iluminuras do Comentário ao Apocalipse, recheadas de cenas religiosas, de monstros fantásticos, imperfeitamente executadas e quase inexpressivas, são todavia um documento curiosíssimo e genuíno da candura e do sentimento da Meia Idade. - O códice termina pelos seguintes versos em tinta vermelha: «Jam liber est scriptus, Quis scripsit si benedictus.» E continua em tinta preta: «Era MCCXXVII (ano de Christo de 1189). Ego Egeas qui hunc librum scripsi si in aliquibus a recto tramite exivi deliquenti indulgeat karitas que omnia superat. Amen.» Tradução: Já o livro está escrito, o que escreveu seja bendito… Eu Egas que este livro escrevi, se nalgum ponto me afastei do caminho direito, que a caridade, que tudo supre, mo perdoe. Ámen.»»
Access and use
Access restrictions
Documento sujeito a autorização para consulta e a horário restrito.
Language of the material
Latim
Associated documentation
Alternative form available
Cópia em microfilme. Portugal, Torre do Tombo, mf. 230Cópia em formato digital. Também disponível em WWW: <a href="http://digitarq.arquivos.pt/details?id=4381091">aqui</a>
Notes
Notes
ttonline_tesouros_grandes_iluminadosClassificado como Registo Memória do Mundo em 9 de outubro de 2015.Apocalipse de Lorvão | Registo Memória do Mundo da UNESCO. [Em linha]. [Consult. 23 Nov. 2011]. Disponível em WWW:<URL:https://antt.dglab.gov.pt/exposicoes-virtuais-2/apocalipse-de-lorvao-registo-memoria-do-mundo-da-unesco/>
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