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Identification
Description level
F
Reference code
PT/AMM/AMR
Title
António Maria Ribeiro
Holding entity
Câmara Municipal de Mafra
Initial date
1880
Final date
1960
Dimension and support / Extents
329 Provas preto e branco; 133 negativos vidro; 58 negativos poliéster; 1 diapositivo em vidro; 1 estampa
Content and structure
Scope and content
Colecção de espécimes fotográficos do escultor cinzelador António Maria Ribeiro, depositada na Câmara Municipal de Mafra, juntamente com cerca de 3 mil desenhos e outros materiais relacionados com a sua profissão, através da doação do espólio do Escultor Domingos Soares Branco, de que faz parte. Entre os 521 espécimes, contam-se peças de 39 fotógrafos, dois dos quais (Fotografia Guedes e Platão Mendes) trabalharam intensamente para António Maria Ribeiro, fotografando peças suas. Os restantes são autores, maioritariamente, de um núcleo de imagens que vieram inseridas neste espólio, relacionadas com a família d'Alte Espargosa, sobretudo com a figura de José Maria Raposo de Sousa d'Alte Espargosa, cuja relação com António Maria Ribeiro e a forma como vieram parar às mãos deste escultor cinzelador ainda desconhecemos.António Maria Ribeiro nasceu a 20 de Setembro de 1889, na freguesia de Cedofeita, Porto. Batizado a 14 de Novembro de 1889, na Igreja Paroquial de S. Martinho de Cedofeita, foi registado como filho ilegítimo de José Victorino Ribeiro, professor, economista e jornalista, e de Maria Delfina. Foi 4 anos mais tarde legitimado por casamento de seus pais (13 de Fevereiro de 1893). Os avós paternos, António Ribeiro, pintor, e Maria do Carmo, foram seus padrinhos de baptismo. Teve 5 irmãos, sendo ele o segundo mais velho: Manuel Marcelino, Eduardo Augusto (também cinzelador), Maria Delfina, Guilherme e Luís. Casa com Inês Paiva Nunes, a 22 de Abril de 1916. Desde muito jovem, o sucesso profissional trouxera-lhe uma boa situação financeira e constituiu ao longo da sua vida vasto património que, gradualmente, veio a perder, dado a vida faustosa que optou por ter. Viajava muito para o Brasil, onde angariou muitos clientes desde os primeiros tempos da sua carreira, ainda enquanto director artístico da Casa Reis & Filhos. Para além das oficinas que tinha no Porto e em Vila Nova de Gaia, abriu ao público uma sala de exposições, em Lisboa, na Rua Garrett, nº 17, 1º esq., momento a partir do qual começou a dividir-se entre Porto e Lisboa. Em Lisboa, numa 1ª fase, vivieu em hotéis; depois mudou-se para um pequeno apartamento na Rua Camilo Castelo Branco, nº 2, onde passava a maior parte do tempo, ficando a esposa a viver no Porto. Do casamento com Inês Nunes, teve apenas um filho, Fernando Eugénio Paiva Nunes Ribeiro (1917) que, embora frequentasse as oficinas do pai, veio a enveredar pela carreira militar (coronel do Estado Maior do Exército). Este casou com Virgínia de Pinho Benilde, de quem teve uma filha, Maria Luísa de Pinho Ribeiro, mãe de três filhas e avó de três netos. António Maria Ribeiro veio a falecer em Lisboa, a 9 de Agosto de 1962, vítima de cancro no estômago. A sua esposa só soube da doença tardiamente e deslocou-se para Lisboa afim de o acompanhar, vindo ele a falecer três dias depois da sua chegada. Sepultado em Lisboa, foi mais tarde a ser cremado e as cinzas foram depositadas no jazigo da familia, localizado no cemitério de Agramonte, no Porto, por iniciativa de sua neta, Maria Luisa Ribeiro. Após a sua morte, "a familia vendeu quase tudo o que se relacionava com a sua profissão, de forma a realizar dinheiro para pagar indeminizações aos operários e fechar as oficinas ainda existentes. A maioria dos moldes foi destruída para que não voltasse a ser utilizada" (Trancoso, 2009, p.71).António Maria Ribeiro fez o curso da Academia Portuense de Belas Artes (1902-1905), actual Escola Superior de Belas Artes do Porto. É provável que tenha começado a trabalhar durante o último ano do curso, com a idade de 15 anos, embora exista uma referência que o menciona como tendo começado a cinzelar aos 12 anos. Em 1914, registou a sua marca de ourives na Casa da Moeda, a qual era o desenho de um pequeno capitel jónico, com um "A" maiúsculo em cima. "A formação artística de António Maria Ribeiro teve continuidade depois do período escolar, pois foi um estudioso da arte portuguesa. Completava as suas leituras com visitas a museus e a monumentos portugueses, principalmente ao Mosteiro dos Jerónimos, à Torre de Belém, ao Mosteiro da Batalha e ao Convento de Cristo. Visitou também vários monumentos no estrangeiro, principalmente em França e no Brasil.Em 1915 já trabalhava na Casa Reis & filhos, auspiciando-se uma carreira brilhante. Dois anos mais tarde, dirigia as oficinas da Casa Reis, sendo chefe de oficina e director artístico. Nesta qualidade, esteve presente na Exposição Internacional do Rio de Janeiro, de 1922, coincidente com a comemoração do 1º centenário da Independência do Brasil. Nesta, também marcou presença individualmente, com a famosa peça "Relicário de Portugal". Enquanto artísta da Casa Reis, apresentou o emblemático "Altar da Pátria", que ainda hoje se encontra no Real Gabinete de Leitura, no Rio de Janeiro, a "Salva Batalha", a "Salva Vasco da Gama" e a "Ânfora Mondego". Segundo Teresa Trancoso, a "passagem pela Casa Reis & Filhos marcou o percurso artístico de António Maria Ribeiro. A temática historicista desta casa, sobretudo abordada com uma gramática decorativa de inspiração neomanuelina, veio a referenciar toda a obra deste ourives, assim como a forte consciência profissional e a responsabilidade para com o ensino transmitido em oficina" (Trancoso, 2009, p.77). A última referência de António Maria Ribeiro como ourives desta casa data de 1923, ano em que a Casa Reis faz uma exposição na Câmara Portuguesa de Comércio de São Paulo, e na qual figuram peças executadas por ele.António Maria Ribeiro teve 5 estabelecimentos comerciais, 4 oficinas no Porto e Vila Nova de Gaia, uma delas com museu, e uma sala de exposições e transações comerciais, em Lisboa. A primeira oficina que abriu situava-se na Rua da Constituição, nº 337, no Porto, onde chegou a ter 90 funcionários. Em 1932, ainda laborava. O edifício foi, infelizmente, demolido. Depois, já em tempo do Estado Novo, abre, juntamente com um sócio, a Fundição de Arte Guedes & Ribeiro, situada na Av. da República, nº1101, em Vila Nova de Gaia. Esta Fundição nasceu da fusão de outras duas, a Fundição Adelino Sá Lemos e a Fundição da Empresa Artística Teixeira Lopes. Para além de proprietário, António Maria Ribeiro foi também o seu director artístico. Relacionado com esta Fundição, veio a abrir um outro estabelecimento na Rua Conselheiro Veloso da Cruz, também em Vila Nova de Gaia. Ainda na cidade do Porto, teve uma oficina e museu situados na Rua de Fernandes Tomáz, nº 244. Em Lisboa, abriu o Salão de Bronzes de Arte, na Rua Garrett, nº 17, 1º esq., um espaço de exposições de trabalhos em bronze, já existente no início da década de 40'. A última exposição que realizou nesta sala intitulou-se "Comemorações Henriquinas", pouco tempo antes de falecer.Expôs os seus trabalhos regularmente em exposições nacionais e internacionais, de que se destaca: a Exposição na Sociedade de Geografia de Lisboa (1922), na qual apresentou duas peças de sua autoria, independente da Casa Reis & Filhos, o "Relicário de Portugal" e a "Vaga da Glória"; a "Exposição Internacional do Rio de Janeiro" (1922), realizada no âmbito da comemoração do 1º centenário da Independência do Brasil, e que se traduziu no momento da sua consagração como artísta, tendo algumas das peças expostas sido adquiridas pela comunidade portuguesa emigrante no Rio de Janeiro e oferecidas a determindas instituições, como o Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro (caso do Altar da Pátria); a Exposição de Pratas na Câmara Portuguesa do Comércio de São Paulo (1923), promovida pela própria Casa Reis & Filhos, muito provavelmente a última exposição na qual António Maria Ribeiro participa enquanto director artístico da Casa Reis e onde apresentou, por exemplo o "Troféu de Football"; a Exposição Internacional de Barcelona (1929), exposição em que participa já individualmente e na qual foi condecorado com a Medalha de Ouro pelo "Prato D. Quixote de La Mancha" (por ocasião desta exposição, a Colónia portuguesa fez-lhe encomenda da "Salva Barão de Foronda" e executou também a "Salva Heráldica", oferecida ao Rei de Espanha, D. Afonso III, por ocasião da mesma); a Grande Exposição Industrial Portuguesa de Lisboa (1932), na qual expôs o Lampadário da Sé do Porto; a Exposição do Mundo Português (1940), onde apresentou peças predominantemente de estética Art Déco; por fim, refere-se a última exposição de António Maria, "Comemorações Henriquinas" (1960), realizada na sua sala de exposições na Rua Garrett, em Lisboa, comemorando-se o centenário da morte do Infante D. Henrique (figura histórica sempre presente na sua obra) bem como o cinquentenário da sua actividade artística de cinzelador e escultor. Foi distinguido: 1921 - Cavaleiro de Sant'iago da Espada; 1922 - Oficialato de Sant'iago da Espada; 1930 - medalha de ouro na Exposição Internacional de Barcelona; 1930 - Título de Fornecedor da Casa Real de Espanha; 1932 - Medalha de Ouro na Grande Exposição Industrial Portuguesa, em Lisboa.De acordo com Teresa Trancoso, "a obra de António Maria Ribeiro reflete o trabalho de um profissional com formação, eficiente e actualizada, com boa qualidade técnica e interpretativa, e original, apesar de perfeitamente integrado no seu tempo e em sintonia com o meio. Nas suas oficinas, sempre se rodeou de profissionais competentes que souberam interpretar o seu grande sentido estético. Além do talento demonstrado na cinzelagem e na escultura, António Maria Ribeiro foi também um excelente desenhador, conforme comprovam as centenas de desenhos depositados, em Mafra. Trata-se de uma obra vasta e dispersa por vários países, como Portugal e Espanha, França, Itália, Moçambique e Brasil, executada em fases distintas da sua vida, enquanto director artístico da Casa Reis & Filhos e como profissional independente, e marcadamente revivalista, constituindo uma referência incontornável no contexto da ourivesaria portuguesa da 1ª metade do século XX. Tal como afirma Teresa Trancoso, "as inúmeras tipologias que o seu trabalho contempla, abrangem objectos religiosos e civis, sendo a temática historicista a preferida para estes últimos. O espólio mostra-nos igualmente uma preferência pela Art Déco através de centenas de desenhos de peças maioritariamente de uso doméstico, bem como de alguns projectos de objectos de carácter religioso". Contudo, a estética revivalista é predominante na sua obra, com particular incidência para a inspiração gótico-manuelina, o que se explica, por um lado, pelo ambiente romântico que vai caracterizar a ourivesaria portuguesa até à primeira metade do século XX, e, por outro, pela influência recebida nos primeiros anos do seu percurso profissional, na Casa Reis & Filhos, casa especializada em revivalismo manuelino (Trancoso, 2009, p.91).
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