OFÍCIO do governador de São Tomé e Príncipe, João Maria Xavier de Brito, ao secretário de estado da Marinha e Ultramar, Joaquim José Monteiro Torres, a informar da entrada frequente no porto da ilha e nos fundeadouros da costa, de embarcações de guerra inglesas, a título de tomar refrescos; chegada da corveta inglesa Brásen, comandada por Jorge W. Willes, tendo-lhe constado que este comandante sem prevenir o governo, arrebatou de bordo da galera inglesa Maltha, o seu capitão, Thomas Young, que estava negociando, e se encontra em dívida à Fazenda Real, dos direitos dos géneros que tinha despachado na alfândega, por ser um criminoso contra as leis inglesas; participa que lhe dirigiu um ofício, por ser do seu dever defender os direitos de soberania de S. M. F. sobre estas ilhas, tendo recebido a resposta num ofício truncado na data, maliciosamente; no dia 17 fizeram-se todos de vela; outro episódio se verificou com a balandra inglesa Happy Return da praça de Liverpool, que estava fundeada a pequena distância do porto, tendo sido visitada pelo oficial de registo do porto e ficado a bordo um soldado artilheiro de nome Joaquim António; esta embarcação aproveitou a saída da corveta de guerra, cobrindo-se com ela e protegida pela sua sombra, foi-se escapando aos tiros da fortaleza, levando consigo o soldado artilheiro; os comandantes das fragatas inglesas costumam fundear na costa, onde não há guardas nem fortalezas e onde livremente os seus marinheiros saltam em terra e tomam à força mantimentos pelos preços que querem; abandonam também na costa, os seus prisioneiros portugueses e espanhóis, rotos e doentes, que fazem no cruzeiro em que andam nestes mares; exemplifica com o abandono na ilha de 30 marinheiros brasileiros e 38 espanhóis, feito por 2 comandantes, vindo quase todos morrer à mingua e pelas moléstias que trazem, por falta de socorros caritativos, que nesta terra tão pobre não se podem dar, até porque não existe um hospital, ficando a mendigar pelas casas particulares; informa que tem relações normais com o comodoro Bullen, que vem muitas vezes a estas ilhas tratar dos seus negócios, constando-lhe que ele tem repreendido asperamente os comandantes das fragatas, para que não pratiquem hostilidades nas ilhas, mas eles não querem saber.
1825-12-20