OFÍCIO da Junta Provisória do Governo de Cabo Verde, ao [secretário de estado dos Negócios da Guerra], Cândido José Xavier, sobre os seguintes acontecimentos: o coronel, Domingos dos Ramos, administrador de um vínculo nesta ilha, queixa-se dos seus rendeiros da Ribeira do Engenho que se rebelaram, tendo atentado contra a sua vida e que negam pagar-lhe as rendas devidas, com o pretexto de que a Constituição abolia todos os vínculos e que as terras vinculadas ficavam propriedade de quem as lavrava; ao mesmo tempo, queixam-se amargamente das evidências e vexames que lhes fazia o dito coronel; foi ordenado ao ouvidor da comarca, que devassasse o caso, tendo sido pronunciado o coronel; os rendeiros amotinados não mais deixaram que alguém entrasse naqueles terrenos, sem a sua licença, com risco de vida; foram chamados à presença da Junta, Mateus Tavares e Manuel Ramos, para lhes abrir os olhos e aquietar os seus companheiros, tendo eles negado; ordenou-se então ao sargento-mor, Domenico Furtado de Mendonça, que os mandasse prender; todos armados declararam que não obedeciam a este governo e que se lá entrasse alguém, seria morto; a Junta decidiu então a convocação de uma sessão extraordinária, com os oficiais superiores e subalternos e a gente boa da ilha, para se ouvir o seu parecer; apelaram ao diálogo, mas decidiram aplicar a força, porque podia haver contágio com os restantes rendeiros da ilha; a situação é crítica, pois se aplicarmos a força, temem a guarnição desta praça, pois uma parte dela é aparentada com os habitantes da Ribeira; considera não ter culpa alguma se acontecer algum desastre, pois não lhes foram enviados os socorros pedidos e pede ajuda.
1822-05-24