REPRESENTAÇÃO do ouvidor de Cabo Verde, juiz ordinário, Valentim de Mendonça, ao rei [D. João VI], a queixar-se de vários despotismos praticados pelo recém chegado, António Pusich, como governador de Cabo Verde, a saber: as autoridades não podem executar as leis de S.M., porque são insultadas pelos ajudantes de ordens, filhos do mesmo governador; o mesmo aconteceu com o juiz dos órfãos, que se achava na companhia dos respectivos escrivães e meirinhos; pelos seus interesses particulares, fez condenar uma escuna espanhola e arrematá-la por diminuto preço, fazendo-a posteriormente, vender à Fazenda Real, por alto preço e por intreposta pessoa; o mesmo praticou com a carregação da mesma escuna, que depois de revendida viajou para a Guiné, carregar escravos para o governador; tomada de uma embarcação com escravos vinda de possessões onde é proibido a escravatura; os milicianos das ilhas estão ao serviço do governador, sendo pior que escravos; saída da escuna Isabel Maria para o Rio de Janeiro, tendo o governador proibido a remessa da mala do correio, com medo que os seus procedimentos, chegassem à presença de S.M.; aportagem à ilha de São Nicolau de 1 corsário insurgente, tendo o governador ordenado ao povo para lhe dar o refresco que precisava.
1818-00-00