OFÍCIO do governador de Cabo Verde, coronel, João da Mata Chapuzet, ao [secretário de estado da Marinha e Ultramar], Inácio da Costa Quintela, a remeter o Conselho de Guerra feito aos réus que participaram no motim e sublevação, ocorridos na praça de São José de Bissau; dos réus, faltava António Picadas, principal cabeça daquele motim, que tinha fugido para o terreno do gentio, tendo posteriormente sido entregue em Bissau e remetido para esta ilha; assim, mandou novamente reunir o Conselho, para sentenciar o mesmo Picadas e o seu cúmplice, o tambor, Marcelino, que com ele veio de Bissau; é de grande necessidade, que o Supremo Conselho de Justiça seja rápido na decisão; quanto ao réu, padre vigário e capelão da tropa de Bissau, pronunciado na devassa, não foi aqui julgado pelo desembargador ouvidor, em consequência da dúvida que há, de ele dever ou não gozar do privilégio do seu foro e ficar preso na cidade da Ribeira Grande, até receber a Real Determinação sobre este objecto; considera que pela gravidade do seu crime, este padre perdeu o foro eclesiástico e não pode ser julgado pelo Juízo Eclesiástico desta província, por serem leigos todos os juízes; informa que o capitão, Domingos Alves de Abreu Picaluga, governador de Bissau, foi por ele mandado retirar daquele governo, tendo este ficado interinamente entregue ao coronel, Joaquim António de Matos; isto adveio do comportamento deste governador, o qual deixou perder, não só o respeito e a subordinação que a tropa da praça lhe devia, mas também, o acatamento e atenção que os gentios conservam sempre, relativos aos governadores das praças da Guiné; descreve vários actos por ele praticados, como a relaxação da tropa, distribuição de rancho aos soldados, pagamentos à tropa, etc., o que provocaram a insurreição da mesma, tendo até consentido que sua mulher entregasse as chaves da praça, logo que se ouviram os primeiros gritos dos amotinados; consentiu também, que houvesse uma convenção entre os oficiais e os soldados, para que o acontecido ficasse silenciado; finalmente, depois de terem sido presos os principais autores da sublevação, sendo réus de pena capital, os mandou castigar, arbitrariamente atados às peças, onde levaram excessivo número de chibatadas e depois, sem que fossem tratados, os mandou a ferros para bordo de uma embarcação, onde morreram; os demais soldados que vieram presos de Bissau e que o desembargador ouvidor não pronunciou na devassa, foram aqui distribuídos pelas companhias desta guarnição.
1826-10-18