Faz parte de um projeto artístico do autor que teve como objetivo permitir que um conjunto de setenta pessoas cegas, de faixas etárias diversificadas, se auto-representasse através da fotografia, encenando por vontade própria a sua identidade consciente. Trata-se pois, de um trabalho de pesquisa artística sobre a condição dos invisuais e a noção de olhar que poderá existir para além da capacidade de ver.
As imagens foram registadas nas sedes de cada uma das instituições onde estas pessoas se encontram integradas (ACAPO - Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal, APEC - Associação Promotora de Ensino dos Cegos, APEDV - Associação Promotora de Emprego a Deficientes Visuais, Centro Hellen Keller, Fundação Raquel e Martin Sain): foi preparado um pequeno estudo fotográfico em cada uma das instituições; todos os indivíduos foram fotografados em condições idênticas de luz (um flash de estúdio), de fundo (em tecido negro), tendo todos uma cadeira para se sentarem. Foi utilizada uma câmara fotográfica de grande formato, que produz negativos de grandes dimensões (10x12cm) e, portanto, de grande definição. Cada uma destas pessoas se sentou em frente à câmara fotográfica, e a sua posição exata foi assinalada pela voz do fotógrafo. Depois, através de uma pêra (dispositivo de pressão de ar que impulsiona o disparador) na mão, ligada à câmara fotográfica, pôde acioná-la de forma a fazer o retrato.
Num segundo momento, foi pedido a cada participante para descrever o mais detalhadamente possível a imagem fotográfica que gostaria de fazer, por si próprio, caso pudesse, identificando assim a sua imagem-desejo.