Scope and content
Processos de recepção das crianças expostas.Em 1783, a administração da Roda descreveu esta documentação do seguinte modo: «(…) Assim que se entrega ao Provedor a carta da Directora da Roda, o que se costuma fazer pela manham cedo, a qual carta consta das crianças, que tem entrada na Roda a que chamão = Parte =, e o estado geral, e diario della, a que chamão = Mappa = (…)».Esta documentação rara e frágil – que representa a face mais humana do processo de abandono e assistência aos expostos – foi preservada em maços, acondicionados em caixas. Nos invólucros analisados encontramos sobretudo: partes; certidões de baptismo dos expostos; bilhetes e objectos – também designados por sinais – deixados com as crianças no momento do abandono na roda. Nas partes, a Directora abria um registo para cada criança abandonada na roda, viva ou morta. Quando a criança entrava viva anotava: a data (dia e mês) e hora da exposição da criança; a idade aproximada; se trazia indicação ou não do nome que se lhe deveria pôr no baptismo; descrevia minuciosamente o enxoval que trazia; indicava se vinha acompanhada de um bilhete de abandono e a calça que lhe atribuía. Quando a criança já entrava morta assentava: a data e hora de entrada; a idade aproximada e o enxoval que trazia. Cada registo apresenta dois números: o primeiro, atribuído pela Directora, acompanha a ordem diária de entrada na roda. O segundo número parece ter sido acrescentado posteriormente. Para além destas e outras informações, esta funcionária anotava os falecimentos das crianças no edifício da Casa da Roda (nome da criança; livro; data (dia, mês e ano) e hora aproximada em que o ocorreu o falecimento).As certidões de baptismo contêm as seguintes informações: nome dos expostos baptizados; referência ao tipo de baptismo realizado (sub conditione); local onde foi realizado o baptismo; data (dia, mês e ano); nome e morada dos padrinhos e assinatura do Pároco.Os bilhetes deixados com as crianças no momento do abandono na roda – atendendo à variedade de produtores e de objectivos – apresentam um conteúdo similar, mas ao mesmo tempo bastante diversificado.Após a saída da Misericórdia da administração da Roda, esta série mantém as mesmas características: relatório diário da entrada de crianças na Casa da Roda do Porto (mais tarde também no Hospício dos Expostos do Porto), elaborado pela Directora da instituição. Este relatório, designado de “Parte”, era geralmente constituído pelos assentos interinos de entrada de cada criança, a nota do baptismo, os bilhetes de abandono e/ou sinais que acompanhavam os expostos, assim como guias para a admissão no Hospício. Estes elementos eram guardados num invólucro feito de papel – através de um método de dobragem que constituía uma espécie de envelope – endereçado ao Vereador dos Expostos (mais tarde ao Director do Hospício) -, onde era anotada a data e o número da última criança que tinha entrado naquele dia. Era elaborado um invólucro por dia, mesmo quando não se verificava a entrada de nenhuma criança, caso em que apenas era referida a data e a eventual referência ao falecimento de algum exposto, caso este tivesse ocorrido no interior do Hospício. Estes invólucros eram anexados por meses, formando os maços que constituem esta série documental. Os assentos interinos das crianças contêm todas as circunstâncias da entrada na instituição, tal como: hora, data, descrição do vestuário e enxoval, referência aos bilhetes de abandono e sinais que acompanhavam a criança (pequenos escritos e objectos para identificação da criança), assim como o número identificativo da mesma (o número de ordem de entrada no dia e o número de ordem de entrada no ano). Após os assentos de entradas, a Directora anotava os expostos que tinham falecido naquele dia, no interior da Roda / Hospício.Os bilhetes de abandono e os sinais identificativos das crianças ficavam guardados nas Partes respectivas, excepto nos casos em que foram anexados aos assentos das Entradas ou aos Processos de Admissão. A cada bilhete era atribuído o número correspondente de ordem de entrada no dia da criança e era depois transcrito no assento definitivo da mesma nas Entradas.A nota do baptismo ministrado pelo Capelão do Hospício contém a data, nome e número das crianças e assim como o nome dos padrinhos. Esta nota apenas era elaborada caso a criança fosse baptizada na Roda / Hospício, ou seja, se não houvesse nenhuma indicação de que já tinha sido devidamente baptizada.Nas Partes podem ainda encontrar-se guias ou pedidos de admissão, emanados pelas autoridades administrativas, policiais, judiciais ou de outras instituições, como hospitais.Nalguns maços de Partes encontra-se o Movimento Diário da Roda, que contém a data, as entradas de crianças, as saídas, falecimentos (todos estes campos têm a discriminação do género das crianças, criação de leite ou de seco e se a entrada foi por abandono na Roda ou apresentação na Secretaria), estado sanitário e pessoal, com a indicação do número de amas de leite, amas de seco e cozinheiras existentes na Casa da Roda.As Partes da Directora eram diariamente entregues na Secretaria da Casa da Roda, e serviam de base para a elaboração dos livros de Entradas.