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Segundo os autores do projecto Regnum regis este é um "Caderno com quatro fólios em pergaminho, não sequenciais, com dois fragmentos de inquirição régia sobre os direitos detidos pelo monarca em diversas freguesias da diocese de Coimbra (julgados de Vouga, Valongo, Loure, Forozos, Souzo, Pinheiro, Penela, Miranda, Penacova, Arouce, Regueiro, Figueiredo, Arouca, Val Maior e Carvoeiro, com outras cujo nome se não distingue). Constituem um testemunho original das actas destas inquirições, cuja análise, desenvolvida por Saul António Gomes no âmbito da comunicação apresentada à Mesa Redonda desenvolvida pelo Projecto Regnum Regis, permitiu corroborar a sua pertença ao conjunto de inquéritos régios desenvolvidos durante o governo de Afonso II e uma datação é passível de ser situada por volta de 1220."
A Carta está datada de Vera Cruz, 1 de Maio e assinada por Pêro Vaz de Caminha, escrivão da feitoria de Calecut, enviado por D. Manuel na armada de Pedro Álvares Cabral, e é o primeiro testemunho da existência de um mundo até então desconhecido dos povos ligados por contiguidade geográfica, o primeiro testemunho de uma realidade que mudou verdadeiramente a face da terra. Foi escrita no período crucial dos Descobrimentos, nos tempos em que a ciência náutica finalmente tornou possível fazer o reconhecimento do nosso planeta. As pessoas referidas na carta são, em primeiro lugar Pedro Álvares Cabral, o responsável pela armada, e outros,mencionados ou não, que faziam parte da expedição, eram capitães experientes, pertencentes a grandes famílias portuguesas, bem como grandes comerciantes florentinos. A Carta faz um relato muito circunstanciado dos costumes dos habitantes da terra, o seu comportamento pacífico, mesmo dócil, suas casas, alimentação, vestuário, vários utensílios como arcos, setas, machados, aves, a cor da terra, os densos arvoredos, a inexistência de animais domésticos. É também de realçar a forma como Caminha se refere aos índios: a três séculos de Rousseau, vemos o olhar maravilhado perante o seu bom primitivismo, a sua ingenuidade, a sua inocência. É como que a antecipação do mito do bom selvagem, que Rousseau teorizou e que originou obras como Atala e René, de Chateaubriand, ou o Guarani, do brasileiro Alencar. A Carta foi escrita por uma testemunha presencial que acompanhou a armada e participou na expedição feita em terra firme, sob o comando de dois homens experientes, escolhidos por Cabral. Ele tinha a incumbência de transmitir ao rei todas as ocorrências e por isso esteve sempre no centro das operações. O tratado de Tordesilhas tinha sido assinado havia pouco tempo, e urgia comunicar a descoberta do novo mundo. A Carta guarda-se na Torre do Tombo no lugar próprio - nas inquirições, ou seja, os inquéritos a que se procedeu desde os primórdios da nacionalidade para se saber a situação dos bens e direitos da Coroa. A Carta é uma inquirição - de características específicas, decerto, próprias da natureza dos bens a inquirir. As descrições e confrontações habituais, tendo como pontos de referência acidentes geográficos diversos e bens de raiz dos mais diferentes senhorios, dão lugar ao relato dos sucessos primeiro da armada e por fim em terra firme. Em terra firme, a inquirição ganha contornos ímpares, pois que ímpar era a realidade. A Carta é pois um documento de arquivo que, devido à capacidade de observação, à cultura e ao talento do seu autor reúne a característica por excelência da obra literária - o prazer de a ler. Tem junto 8 documentos: - um fac-símile da carta executado por processo xerográfico sobre papel Fabriano Ingrés; - uma fotocópia da carta;, - duas reproduções parciais em fotocópia; - uma cópia 'para melhor inteligência' mandada fazer pelo guarda-mor da Torre do Tombo em 19 de Fevereiro de 1773; - dois autos de autenticação dos fac-símile; - o certificado de inscrição no Registo da Memória do Mundo pela Unesco, de 29 de Julho de 2005.