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OFÍCIO do prefeito da ilha de Santiago, Manuel António Martins, ao secretário de estado da Marinha e Ultramar, Francisco Simões Margiochi, a participar que as ilhas de Cabo Verde se encontram privadas de comunicação interna, a qual só pode ser feita por embarcações, o que provoca grandíssimos transtornos ao comércio interno e aos negócios particulares dos seus habitantes; ao mesmo tempo, torna impossível a circulação das ordens do governo, que chegavam a demorar 3 ou 4 meses a chegar ao seu destino; assim sendo, estabeleceu um sistema geral de correios, com grande proveito dos povos e da Fazenda Pública e estabeleceu um paquete de carreira entre as ilhas, que girando continuamente põe em contacto os povos que estavam isolados; como no Cofre não houvesse dinheiro para comprar as embarcações, aplicou no serviço uma escuna nova de 20 toneladas, forrada de cobre e sua propriedade, de que não exigue compensação alguma, ficando somente a cargo do governo o seu costeio, que não chega a 100 mil réis mensais; este paquete em 3 meses, fez 3 viagens às ilhas do Sotavento e 2 às do Barlavento; já está instalado no arquipélago o sistema administrativo e toda a nova legislação de S. M. I.; acaba de receber comunicações do novo provedor da ilha de Santo Antão, de que em consequência das ditas leis, os proprietários daquela ilha, já estão a arrancar as vinhas que ocupavam as suas férteis planícies e começaram a plantar café, segundo as novas instruções de cultura que lhe foram enviadas; espera que S. M.I aprove este sistema de comunicação interna.

OFÍCIO do governador de Cabo Verde, D. Duarte da Costa de Sousa de Macedo, ao [secretário de estado da Marinha e Ultramar] conde de Basto [José António de Oliveira Leite de Barros] a informar do estado de fome e miséria em que se acha a capitania, devido à falta de chuva, a saber: choveu finalmente de Outubro a Dezembro e existem esperanças em haver algum feijão, único recurso existente, esperando-se uma escassa produção de milho, porque as chuvas foram tardias e fizeram morrer três sementeiras sucessivas de milho; vieram abrigar-se da fome a esta ilha, mais de 6 mil pessoas das outras ilhas; alguns proprietários têm concorrido com socorros gratuitos, no entanto a fome é tão grande, que nada tem chegado; recebeu do governador da ilha da Madeira 10 mil libras de bolacha, que fez distribuir pelos habitantes; pede que S. M. ordene o socorro que julgar suficiente, para os 60 mil habitantes da capitania; pede também, o envio de uma embarcação para conduzir os habitantes para Portugal, Costa da Guiné, Angola, Benguela, ou para onde S. M. julgar mais acertado, pois que, se este ano não chover, morrerá tanta gente que ficarão estas ilhas desertas ou quase; informa que chegaram no mês passado à ilha de Santiago, duas embarcações americanas carregadas com mantimentos, para distribuição gratuita aos habitantes; chegaram também à ilha da Boavista, 3 navios americanos igualmente carregados com mantimentos, sendo estes auxílios da maior importância, mas insuficientes; lembra que a dívida desta ilha aos oficiais militares, é para mais de 2 anos, assim como aos empregados civis e ao clero, que vai para 6 anos, sendo a dívida total de 44:171$612 réis; propõe que S. M. ordene o envio anual para a capitania, de uma consignação certa, em dinheiro de metal do Erário Régio, ou determinar que se tire todos os anos do ramo da urzela, uma porção que possa ser vendida aqui, para cubrir o deficit da capitania; pede que a consignação anual seja em metal, por não haver nesta ilha pessoas que tenham fundos para pagarem as letras do Erário Régio; por fim e devido a doença, pede a S. M. a exoneração do governo geral das ilhas, dignando-se nomear um seu sucessor e que o mande render na primeira embarcação que da Corte parta para esta ilha; assegura que toda a capitania se encontra em pleno sossego e tranquilidade, à excepção da praça de São José de Bissau, onde o gentio circunvizinho tem manifestado intentos hostis, esperando há muito por uma embarcação para expedir para lá socorros.

OFÍCIO do administrador da urzela, Manuel António Martins, ao secretário de estado da Marinha e Ultramar, conde de Basto [José António de Oliveira Leite de Barros], sobre: informa que há um ano que não existe comunicação alguma, tendo cessado as remessas da urzela, por receio de sinistro do navio que a conduza; o bergantim Dois Amigos encontrava-se carregado de urzela pronto a seguir para Lisboa, em Janeiro de 1832, quando a este porto chegou um navio brasileiro vindo da ilha de São Miguel, trazendo notícias de ali andarem corsários que atacavam os navios portugueses, o que se verificou com a sua escuna Prudência, vinda do Maranhão, que foi apresada; achou prudente descarregar o navio, esperando por algum navio inglês para conduzir a carga; chegada de um iate à ilha do Fogo vindo da ilha da Madeira, que se encontra bloqueada, dando a notícia de terem ali chegado tropas enviadas por El Rei Nosso Senhor; explicita a situação do envio ou não da urzela, e afirma a sua conduta, tendo sómente em conta os interesses da Fazenda Real e não os seus particulares; informa da seca medonha que tem atacado as ilhas, trazendo consigo uma fome geral e tendo morrido os gados por falta de pastos, prinicipiaram também a morrer os seus habitantes, atingindo a mortandade cerca de 30 mil indivíduos; participa que se não fossem os auxílios remetidos pelos Estados Unidos da América, já não existiria um terço da população; remete um mapa dos mantimentos enviados para a ilha da Boavista, tendo-os feito distribuir pelas restantes ilhas; a produção da urzela na ilha de Santo Antão onde era a mais abundante, de 1000 a 1200 quintais o ano passado, não chegará a 300 quintais, este ano.

OFÍCIO do governador de Cabo Verde, D. Duarte da Costa de Sousa de Macedo, ao [secretário de estado da Marinha e Ultramar] conde de Basto [José António de Oliveira Leite de Barros] a participar que no dia 21 de junho de 1832, a comarca da ilha da Boavista na ocasião de reunir-se para a procissão de Corpus Christi, rompera em proposições sediciosas, tendo imediatamente contactado um dos juízes da ilha, para no impedimento do ouvidor, ir ali devassar sobre o facto; enviou também um oficial militar da sua confiança para acompanhar e auxiliar o juiz, que pronunciou 9 pessoas, das quais porém, antes de serem presas, fugiram 7; informa que se deslocou para assistir às festividades que ocorrem no dia da Visitação de Nossa Senhora na igreja da Santa Casa da Misericórdia da cidade da Ribeira Grande; na noite seguinte, apresentou-se um soldado da vila com recado oral do respectivo comandante da praça, o tenente-coronel, António Cardoso de Figueiredo e Melo, para que comparecesse imediatamente, por assim o exigir a segurança publica; assim o fez, encontrando reunidos os oficiais militares, a artilharia carregada, e reforçada a guarda do seu quartel general, tendo o sobredito oficial lhe participado por escrito, que procedera àquelas precauções por ter sido informado que naquela noite, poderia haver uma sublevação; fez proceder a uma rigorosa devassa, cumprindo a lei e ouvindo testemunhas, mas no entanto, não ficou indivíduo algum pronunciado; a capitania encontra-se em perfeita tranquilidade e até se acham desvanecidos os receios de hostilidades contra a praça de Bissau, depois que para lá expediu 100 praças de tropa, que impuseram respeito aos gentios.