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OFÍCIO da Junta Provisória do Governo de Cabo Verde, ao [secretário de estado dos Negócios da Guerra], Cândido José Xavier, sobre os seguintes acontecimentos: o coronel, Domingos dos Ramos, administrador de um vínculo nesta ilha, queixa-se dos seus rendeiros da Ribeira do Engenho que se rebelaram, tendo atentado contra a sua vida e que negam pagar-lhe as rendas devidas, com o pretexto de que a Constituição abolia todos os vínculos e que as terras vinculadas ficavam propriedade de quem as lavrava; ao mesmo tempo, queixam-se amargamente das evidências e vexames que lhes fazia o dito coronel; foi ordenado ao ouvidor da comarca, que devassasse o caso, tendo sido pronunciado o coronel; os rendeiros amotinados não mais deixaram que alguém entrasse naqueles terrenos, sem a sua licença, com risco de vida; foram chamados à presença da Junta, Mateus Tavares e Manuel Ramos, para lhes abrir os olhos e aquietar os seus companheiros, tendo eles negado; ordenou-se então ao sargento-mor, Domenico Furtado de Mendonça, que os mandasse prender; todos armados declararam que não obedeciam a este governo e que se lá entrasse alguém, seria morto; a Junta decidiu então a convocação de uma sessão extraordinária, com os oficiais superiores e subalternos e a gente boa da ilha, para se ouvir o seu parecer; apelaram ao diálogo, mas decidiram aplicar a força, porque podia haver contágio com os restantes rendeiros da ilha; a situação é crítica, pois se aplicarmos a força, temem a guarnição desta praça, pois uma parte dela é aparentada com os habitantes da Ribeira; considera não ter culpa alguma se acontecer algum desastre, pois não lhes foram enviados os socorros pedidos e pede ajuda.

OFÍCIO do governador de Cabo Verde, coronel, João da Mata Chapuzet, ao [ministro da Guerra], Manuel Gonçalves de Miranda, sobre: chegada da expedição destinada a Cabo Verde; notícias de que antes do desembarque, algumas pessoas alucinadas tinham procurado iludir os povos, fomentando um partido a favor do Brasil, tencionando depor esta Junta Governativa e não recebendo o governador e as tropas europeias; esta acção não teve êxito, mas por agora não pode proceder contra os culpados, porque ainda não chegou o ouvidor; os povos levantados da Ribeira do Engenho, têm à cabeça Manuel Francisco, ao qual mandou prender e remeter ao quartel general; ordenou a presença do coronel, Gregório Freire de Andrade, que é um dos proprietários mais bastados da província, e que era bem escutado pelos povos, tendo a situação acalmado; visita à dita Ribeira do Engenho, acompanhado pelos oficiais do seu Estado-Maior e 6 soldados de cavalaria, tendo sido bem recebido; enumera as diversas dificuldades no fornecimento da alimentação da tropa, e pede o envio de diversos artigos; no sítio de São Martinho, existe uma ribeira que traz água suficiente para se construirem um ou mais moinhos de água; providenciou o alojamento da tropa europeia nas casas da câmara, pois os quartéis não têm condições, sendo as rendas pagas por conta da Fazenda Real; o hospital militar é uma péssima habitação, precisando ser construído um novo; o cirurgião-mor do hospital pediu a demissão por não ter documento algum, mas manteve-o no cargo por absoluta necessidade, sendo imperioso o envio de um cirurgião-mor para esta ilha; estabelecimento de uma nova botica; não foram enviados alguns artigos mais urgentes, sendo obrigado a oficiar ao comandante da curveta Lealdade, que lhe fornecesse algumas tinas, barris e baldes; pede que o Arsenal do Exército, remeta com urgência o resto da requisição por si enviada; arranjo de um escaler para o serviço, tendo ficado com uma pequena lancha e um pequeno escaler; requisitou ao ministro da Marinha, uma boa lancha com remos, um virador, 1 ancurote e 1 ferro, para poder acudir a qualquer embarcação que esteja em perigo; não havendo armazéns suficientes para se guardarem todos os artigos, foram distribuídos por algumas casas, o que fez aumentar o número de guardas e sentinelas, pesando no serviço diário; envio de editais para se arrematar o fornecimento do azeite; apronto de 2 carros pertencentes à Fazenda, a fim de os soldados irem buscar lenha ao mato, acompanhados por 1 oficial inferior; a única fonte que há na vila para uso dos habitantes, é um grande poço que se chama de fonte-ana, estando as suas paredes arruinadas e estando transformada num lamaçal mal cheiroso; foi lá posto uma sentinela para que ninguém se lavasse junto ao poço, tendo sido reconstruídas as paredes do seu bocal e tudo o resto, inclusivé o caminho; foi desentulhado outro poço e construída uma pia; o pagamento desta obra é por conta da câmara; dos sentenciados a degredo para esta colónia, existem muitos oficiais de ofícios que foram utilizados nas obras; com estes oficiais deseja formar um pequeno Trem, para que se façam os melhoramentos com muito menor despesa e sem que obrigue a grande remessa de artigos de Portugal; assim, os naturais do país podem empregar-se no mesmo Trem e aprenderem diversos ofícios; atendendo à existência de pedra calcária nas ilhas, logo que tenha meios e sendo da aprovação do governo, far-se-á um forno de cal, por conta da Fazenda; quanto à administração da Fazenda, tem havido grandes extravios, tendo dirigido algumas circulares sobre este objecto; depois da sua chegada e apesar de ter trazido consigo 105 degredados e terem chegado pouco antes, mais 75, a maior parte pelos crimes de ladroagem, não tem havido roubos nem desordens, estando os povos muito satisfeitos e contentes; tanto as autoridades militares como civis das ilhas, prestaram já o juramento à Constituição Política da Monarquia Portuguesa; quanto à agricultura, comércio e produções naturais do país, espera em poucos dias poder responder com o exacto conhecimento dos factos, a fim de propor os meios que forem vantajosos, para o crescimento desta província em todos os ramos e nas suas relações comerciais.