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CARTA do ouvidor geral das ilhas de Cabo Verde, João Gomes Ferreira, ao rei [D. José] dando conta da recondução do provedor da Santa Casa da Misericórdia da cidade da Ribeira Grande da ilha de Santiago, coronel, Manuel Gonçalves de Carvalho, que vinha servindo naquele cargo com a parcialidade da maior parte dos eleitores, em particular do seu cunhado, coronel, João Freire de Andrade, de Caiada, concorrendo, ele próprio na inelegibilidade de eleitor, por ter sido, por dois anos, provedor daquela Casa, o que ia em contra-senso com o estabelecido no compromisso da [Santa Casa] da Misericórdia de Lisboa pelo qual regia a Santa Casa de Santiago; queixando-se dos seus maus procedimentos em relação aos assuntos da Misericórdia; comunicando serem esses coronéis, os principais causadores dos conflitos existentes entre si e o governador, [Bartolomeu de Sousa e Brito Tigre], em particular, o coronel provedor, Manuel Gonçalves de Carvalho, sobre quem tem informado pela sua participação no furto feito nas casas de morada do desembargador sindicante, Custódio Correia de Matos, com um escravo, por mandado do coronel, [António] de Barros [Bezerra de Oliveira], e que vinha pronunciado na devassa tirada pelo seu predecessor, João António da Silveira e Sampaio, em 1754. [Existe uma carta de 3 de Janeiro 1766 que reproduz, como 2ª via, esta matéria na integra, acrescentando os enredos e conflitos promovidos pelo coronel Manuel Gonçalves de Carvalho para sua manutenção no cargo de provedor da Santa Casa da Misericórdia, apontando as razões que o tinham levado, anteriormente, a pedir demissão e acerca da escolha e recusa do seu cunhado, João Freire de Andrade e do capitão, Ciprião Álvares de Almada, para serem reeleitos como provedor daquela Casa].

CARTA do governador de Cabo Verde, Bartolomeu de Sousa e Brito Tigre, ao rei [D. José] em resposta à ordem de 21 de Agosto, que mandava para pôr prontos os criminosos de todas as ilhas, mantimentos e munições para embarcar à chegada da fragata de guerra [Nossa Senhora da Penha de França], comandada pelo [capitão-de-mar-e-guerra], Luís [Caetano] de Castro [e Vasconcelos], e mais navios da Companhia de Grão Pará e Maranhão, Nossa Senhora do Cabo, São Sebastião, São Tomé e Nossa Senhora das Necessidades, [com o director da expedição], padre frei Manuel de Vinhais Sarmento, para serem entregues ao sargento-mor de Infantaria com exercício de engenheiro, Manuel Germano da Mata, para a construção da Fortaleza de [São José] de Bissau; informando ter recebido também recomendação do provedor e deputados da Companhia de Grão Pará e Maranhão para auxiliar seus administradores e de lhes ter ordenado que não arrecadassem os dízimos referentes ao ano de 1766; sobre a devassa militar que mandou tirar ao coronel Manuel Semedo de Andrade; comunicando que ficavam na cadeia da vila da Praia, alistados para irem a Bissau, dois presos, criminosos de moedas falsas, como sendo o antigo capitão, Pedro de Brito, e Izidoro Ribeiro. [Constam do anexo desta carta uma relação geral da gente criminosa das ilhas do Fogo, Brava, Santiago e ilhas do Barlavento, soldados e oficiais das Companhias militares, oficiais de pedreiros e ferreiros e degredados presos e alistados para a expedição de Bissau, bem como mantimentos e outros apetrechos e a devassa militar que o governador, Bartolomeu de Sousa Brito e Tigre, mandou tirar ao sargento-mor Manuel Semedo de Andrade que se ofereceu, sem confessar suas culpas, para aquela povoação].

CARTA do governador de Cabo Verde, Bartolomeu de Sousa e Brito Tigre, ao rei [D. José] dando conta, com base nas informações dos administradores da Companhia de Grão Pará e Maranhão, das queixas e maus procedimentos do capitão e sargento-mor da ilha do Fogo, Marcelino José Jorge Henriques, fazendo negócios proibidos com os estrangeiros; acerca das queixas dos moradores da ilha de [Santiago], em particular dos moradores da vila da Praia e relativas ao comércio com os estrangeiros que escalam o seu porto para fazer aguadas e comprarem refrescos, por o capitão-mor daquela vila, José Évora de Macedo, tomar a seu cargo todas as vendas desse negócio, pelo que pedia que ele fosse advertido sobre essa matéria; sobre se lhe sugerir se devia consentir no provimento e passar patente aos degredados nos empregos civis e militares naquela ilha, como lhe requeria o ouvidor geral, [João Gomes Ferreira], para os degredados que tinha elegido como oficiais militares, a saber, Dr. António de Sousa Fragoso e Manuel António da Silva, também no emprego de escrivão da Correição, Apolinário José Moreira, e para meirinho, Luís António Vizanto; informando do regresso para a Corte, na embarcação de invocação São Tomé, do ex-sargento-mor da ilha de [Santiago], António de Araújo Castro, remetido pelo Bispo [D. frei Pedro Jacinto Valente] por desacatos e desobediência; e acerca da epidemia que tem assolado aquelas ilhas, da grande mortandade e do falecimento do coronel Joaquim Afonso [da Fonseca] e do sargento-mor, Bartolomeu Rodrigues Soeiro.

CARTA do ouvidor geral das ilhas de Cabo Verde, João Gomes Ferreira, ao rei [D. José] dando conta da sua chegada bem como da do governador, [Bartolomeu de Sousa e Brito Tigre], à ilha de Santiago e da tomada de posse na Câmara da cidade da [Ribeira Grande]; informando sobre o auxílio dado pelo governador, da sua Companhia e do [capitão-de-mar-e-guerra] e comandante das fragatas [Nossa Senhora da Penha de França e Nossa Senhora da Estrela], José Rolleen Vandeck, no cumprimento das ordens reais e na prisão dos principais mencionados na morte do ouvidor, seu antecessor, João Vieira de Andrade, a saber, o juiz [Ordinário], que servia de ouvidor, governador e tesoureiro dos Defuntos e Ausentes, José Romão e Silva, o escrivão da Correição, dos Defuntos e Ausentes, da Fazenda Real e da Guerra, servindo de escrivão da Câmara, Francisco Rodrigues da Guerra, homem pardo, acusado por Maria Barbosa, bem como na prisão do capitão-mor da vila da Praia, Gabriel António Cardoso, cunhado do principal suspeito do assassinato daquele ouvidor, o coronel António de Barros [Bezerra e Oliveira], dos cónegos, Nicolau da Fonseca de Araújo e Francisco Robalo Valdevesso e do chantre e vigário geral, Inácio Martins Gordo, com base nas informações dadas pelo letrado e degredado, António Bernardino de Sousa Correia; sobre as ordens dadas aos capitães-mores dos portos de Santiago, no [interior da ilha], e ilha do Maio, para prender os fugitivos, Diogo de Almeida, Manuel José e José de Morais; e sobre as prisões dos outros implicados, todos vadios, como sendo, Manuel Lopes, homem pardo, e do alcaide geral da freguesia de São João, Próspero da Veiga, morador em Leitões.

OFÍCIO do ouvidor geral das ilhas de Cabo Verde, João Gomes Ferreira, ao [secretário de estado da Marinha e Ultramar, Francisco Xavier de Mendonça Furtado], sobre a fuga do ajudante da vila da Praia, Diogo de Almeida, um dos pronunciados na morte do ouvidor geral, seu antecessor, [João Vieira de Andrade]; acerca dos sequestros, para as dívidas e custas, dos bens dos culpados remetidos [para o Reino], em particular, do coronel, António de Barros Bezerra [de Oliveira]; sobre o estado da ilha de [Santiago] após as prisões efectuadas; sobre a restituição aos juízes Ordinários da cidade da [Ribeira Grande] e vila da Praia, da sua jurisdição cível e criminal como também dos Órfãos, na falta de seus juízes, usurpadas pelos seus antecessores; acerca da carta do ouvidor geral, [João Vieira de Andrade] e mais papéis que tem em sua posse, dando conta do estado da religião e dos factos que considerava erros e contrários aos dogmas da fé da religião católica que versavam e eram praticadas naquela ilha, a saber: 1) A esteira, acto que reputava de gentílico e que consistia em estender esteira aos seus defuntos, a partir do dia do óbito, durante quinze a vinte dias, pelos moradores, quer eclesiásticos ou seculares, nobres ou plebeus, seguido de choro, banquetes e de luxúria; 2) o reinado, que era realizado em todas as freguesias das ilhas e que consistia nos homens e mulheres servirem de reis e rainhas em domingos e dias santos, pedindo em cada uma delas, o reinado, com tambor e gaita, para organizar banquetes, consumando a sua coroação do reinado por um pároco, no final do ano, com uma missa rezada em cada freguesia que representavam, ao que se seguia à adoração de um altar em casa do rei e da rainha, e manifestações de gula e luxúria; 3) o foro ou mel; e outros abusos e erros mencionados e que era preciso evitar; sobre o livro novo do regulamento da disciplina militar que solicitava como auditor dos soldados; comunicando sobre o regresso do capitão e sargento-mor da ilha do Fogo, Manuel Urbano, e pedindo que se informasse sobre si, com os testemunhos deste sargento-mor, dos comandantee das fragatas [Nossa Senhora da Penha de França e Nossa Senhora da Estrela], José Rolllen Vandeck, e Bernardo Ramires Esquivel, e do capelão, padre Luís António, acerca dos seus procedimentos e do governador, [Bartolomeu de Sousa e Brito Tigre]; e informando que remete a carta do preto e antigo tesoureiro menor da Sé da ilha de [Santiago], João Coelho Barros.

CARTA do ouvidor geral das ilhas de Cabo Verde, João Gomes Ferreira, ao rei [D. José] dando conta da prisão e envio para o Reino na fragata [Nossa Senhora da Penha de França] comandada pelo [capitão-de-mar-e-guerra], José Rolleen Vandick, dos seculares e eclesiásticos, também do coronel, António de Barros Bezerra de Oliveira, um dos principais mentores da morte do ouvidor, seu antecessor, João Vieira de Andrade; sobre o importante papel desempenhado pelo governador, [Bartolomeu de Sousa e Brito Tigre], no cerco à ilha, na prisão e entrega, na fragata Nossa Senhora da Estrela sob o comando do [capitão-de-mar-e-guerra], Bernardo Ramires Esquivel, dos presos, Diogo de Almeida, Manuel José de Oliveira, criado do antigo governador, Manuel António [de Sousa e Meneses], do soldado, José de Morais, preso pelo capitão-mor da vila da Praia, José Évora [de Macedo], e dos vadios, Pedro Sanches e Feliciano, escravo do coronel, António de Barros [Bezerra de Oliveira], de Gaspar Vieira e Marcos Lopes; sobre a prisão, com sequestro de seus bens, do antigo capitão-mor da vila da Praia, Gabriel António Cardoso, também do cónego Pedro Cabral, Manuel Cabral e seu escravo Firmiano; acerca da devassa que abriu na cidade da [Ribeira Grande] e vila da Praia para descobrir sobre a verdade dos factos e dos delinquentes envolvidos naquela morte, concorrendo para formar o corpo de delito, a carta da ama do referido ouvidor, Maria Barbosa; e acerca dos papéis, peças de ouro e prata apreendidos à maior parte dos réus, e que eram propriedade do falecido ouvidor, João Vieira de Andrade.